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Tragédia no RS tem repercussão mundial

Sites internacionais divulgaram com destaque a notícia do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria. O assunto foi explorado em todos os cantos do mundo, como o jornal americano The New York Times, a rede de televisão árabe Al Jazeera e o site do jornal britânico The Guardian.

A rede americana CNN relatou o incidente na televisão e na internet. Uma das notas diz que o episódio lembra a tragédia de 2003 em uma boate em Rhode Island, onde uma apresentação de fogos de artifício feita pela banda de heavy metal Great White provocou um incêndio que matou mais de 90 pessoas.

O espanhol El País foi um dos primeiros jornais estrangeiros a dar espaço para a notícia: o assunto foi manchete da página principal de seu portal durante boa parte do dia... A reportagem frisou, já no título, que a casa noturna não tinha alvará de funcionamento.

O destaque também foi grande na imprensa argentina. O site do Clarín comparou o incidente à tragédia semelhante ocorrida em Buenos Aires em 2004 - que resultou em 194 mortos e centenas de feridos. O incêndio de Santa Maria ainda foi noticiado na capa do portal Le Monde, da França, e em sites de países como Reino Unido, Itália e Suíça (confira alguns destaques abaixo).

Luto. O governo do Reino Unido divulgou nota de condolências pelo ocorrido. O ministro britânico de Relações Exteriores, Hugo Swire, afirmou estar "profundamente triste com a notícia do trágico acidente em Santa Maria nesta manhã".

"Meus pensamentos e sinceras condolências às famílias que perderam seus entes queridos. Desejo uma rápida recuperação para as centenas de vítimas que estão sendo tratadas nos hospitais", completou.

A chanceler alemã Angela Merkel também ofereceu condolências à delegação brasileira que participa do encontro da Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos com a União Europeia em Santiago, no Chile.

Segundo a emissora de televisão alemã Deutsche Welle, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, expressou a "mais profunda solidariedade" de Berlim com as vítimas da tragédia. "Estou profundamente abalado com esse terrível acidente", disse Westerwelle. /FERNANDO NAKAGAWA e GABRIELA LARA


Entenda

O incêndio com mais mortes nos últimos 50 anos no Brasil causou comoção nacional e grande repercussão internacional. Em poucos minutos, mais de 230 pessoas - na maioria jovens - morreram na boate Kiss de Santa Maria - cidade universitária de 261 mil habitantes na região central do Rio Grande do Sul. Outras 127 ficaram feridas.

A tragédia começou às 2h30 de domingo (27/01), quando um músico acendeu um sinalizador para dar início ao show pirotécnico da banda Gurizada Fandangueira. No momento, cerca de 2 mil pessoas acompanhavam a festa organizada por estudantes do primeiro ano das faculdades de Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Uma fagulha atingiu o sistema de exaustão da casa noturna e o fogo se alastrou rapidamente pelo teto com papelão e material de proteção acústica. A maioria das vítimas, porém, não foi atingida pelas chamas - 90% morreram asfixiadas.

Uma série de erros potencializou a tragédia. Sem porta de emergência nem sinalização, muitas pessoas em pânico e no escuro não conseguiram achar a única saída existente na boate. Com a fumaça, várias morreram perto do banheiro. Para piorar, seguranças da casa tentaram impedir alguns frequentadores de sair antes de pagar a comanda. Na rua estreita, o escoamento do público foi difícil. Bombeiros e voluntários quebraram as paredes externas da boate para aumentar a passagem. Mas, ao tentarem entrar, tiveram de abrir caminho no meio dos corpos para chegar às pessoas que ainda estavam agonizando. Muitos celulares tocavam ao mesmo tempo - eram pais e amigos em busca de informações.

Como o Instituto Médico-Legal não comportava, os corpos foram levados a um ginásio da cidade, onde parentes desesperados passaram o dia fazendo reconhecimento. Lá também foi realizado o velório coletivo.

Ao longo do dia, centenas de manifestações de solidariedade lembraram a tragédia em todo o País. Emocionada, a presidente Dilma Rousseff chorou duas vezes ao falar do caso - ainda no Chile, de manhã, onde deixou um encontro com presidentes, e à tarde, ao lado do governador Tarso Genro, já em Santa Maria.