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Sem fonte de renda e incentivo homem troca o campo pela cidade

Estamos vivenciando uma situação para lá de crítica no campo", essa foi à declaração dada pelo presidente do Sindicato da Lavoura de Mossoró, Francisco Gomes, quando questionado sobre a situação do homem do campo, na manhã desta terça-feira, 5.

De acordo com Chico da Lavoura, como é mais conhecido o sindicalista, essa situação vem se arrastando desde o ano passado, avaliado por ele, o pior até o momento já enfrentado nos últimos tempos. "O homem do campo vem sofrendo e não é de agora. Essa situação drástica vem desde o ano passado quando tivemos a pior seca dos últimos dez anos", avaliou o presidente.

Ele explica que o escape dos trabalhadores das cento e trinta e três comunidades rurais de Mossoró, tem sido a aposentadoria rural (correspondente a um salário mínimo) dos quase 35% de aposentados que lá vivem. "As famílias estão tentando sobreviver, na verdade, com uma aposentadoria rural, porque não há outra fonte de renda melhor", disse Chico.

E, na fuga para tentar escapar do mau momento em que vive a agricultura, os jovens partem em busca de oportunidades na zona urbana. Em um levantamento realizado pelo Sindicato da Lavoura, grande parte dos jovens que migram para a cidade, está preenchendo a lacuna aberta pelo setor da construção civil.

"Se visitarmos o setor da construção civil aqui em Mossoró, e conversarmos com alguns serventes, por exemplo, vamos comprovar que os números da avaliação realizada pelo Sindicato nesses últimos meses são concretos", afirmou o presidente.
Chico da Lavoura, ainda informa que, quem não optou pela prática do êxodo rural até esta 'altura do campeonato', está garantindo uma renda minúscula com o corte e venda de lenha para as panificadoras mais próximas.

"A renda é quase zero. Os poucos jovens que ainda estão lutando para permanecer na zona rural, lutam, praticando uma atividade que não é aconselhável, o corte de lenha. Mas, o que fazer? Não há água, não há gado, não há comida, não há incentivo por parte de nenhuma esfera governamental, e, consequentemente, não há renda", disparou.

Das cento e trinta e três comunidades rurais de Mossoró, o Assentamento Maracanaú - localizado na divisa com o município de Assu, e a comunidade de Cordão de Sombra, são as mais castigadas com a estiagem.

Falta de água atinge comunidades como Maracanaú

Das 133 comunidades rurais que sofrem com a falta de água, o Assentamento Maracanaú, é o mais castigado em diversos aspectos. Um deles é a espera pela visita da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte - CAERN.

De acordo com Chico da Lavoura, há mais de dois anos a comunidade aguarda apenas que a Caern interligue a rede, já disponível na comunidade, à adutora. "São quase três anos esperando que a Caern apenas interligue 6 metros de canos, que já estão lá, de Maracanaú até a adutora. É algo simples, mas que ainda não foi feito".

No final da tarde desta segunda-feira, 4, os moradores de Maracanaú fizeram uma manifestação em prol de chamar a atenção das autoridades responsável pelo serviço. "Não tenho detalhes precisos sobre o ocorrido ontem em Maracanaú, mas sei que a manifestação foi, realmente, para se ter uma solução nesse quesito", finalizou Chico.

Garantia Safra e Plano Emergencial não suprem necessidade
da Agricultura Familiar

Mesmo com a existência de programas de incentivo por parte do Governo Federal, como o Garantia Safra e o Plano Emergencial, a agricultura familiar continua sofrendo com a longa estiagem. De acordo com o presidente do Sindicato da Lavoura, Francisco Gomes, esses recursos não estão sento suficientes para suprir a realidade que vive o homem do campo.

Segundo ele, além da morosidade para a chegada desses recursos, há também, um destino equivocado. "Não adianta destinar R$ 2 milhões para compra de ração para o gado, se continuamos sem água. O homem do campo precisa de recursos hídricos, e a partir daí, caminhar com suas próprias pernas", disse.

Quando o assunto é Plano Emergencial, o presidente dispara. "Só passou a funcionar em decorrência da ocupação dos agricultores ao BNB em dezembro passado." A partir daí, segundo ele, o plano passou a finalizar os mais de 2.000 mil projetos engavetados e a liberar recursos.

Para ter direito ao Plano Emergencial, entre alguns critérios estão: Comprovar que é agricultor familiar, ter em mãos a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) - emitido pela Emater -, não estar com nome em SPC, entre outros pré-requsitos.

Atualmente, todas as quartas, o BNB de Mossoró, que ainda tem mais de 1.000 projetos a serem aprovados e liberados, reúne mais de 60 agricultores na sede do Sindicato para assinatura dos projetos. O recurso de cada projeto pode variar entre R$ 2 e R$ 12 mil.


Karla Viegas